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Será que existe uma fórmula para a felicidade? Um caminho pelo menos…

“Quão loucos são os homens, que tentam fazer as coisas da mesma forma e obter resultados diferentes!” Albert Einstein

Bem, aqui está um tema complexo… o verdadeiro caminho e Valor da Felicidade! Por recomendação de alguns leitores, que pediam que simplificasse os meus textos “técnicos”, achei melhor contar-vos uma estória para ilustrar este tema que tem deveras uma elevada complexidade. 

Num belo dia de verão, Ginestélio (o nosso personagem principal), debatia-se com um pensamento… o que quero eu da vida? Qual o meu maior desejo de vida? Após muito debate interno, desde pensar que pretendia ter dinheiro e após rapidamente perceber que afinal, o que ele pretendia eram coisas que o dinheiro poderia comprar para o fazer feliz, decidiu assumir como principal valor da sua vida, o Valor da Felicidade.

Começando a investigar e analisando o que é a Felicidade, Ginestélio descobriu desde as mais remotas teorias e conceitos explicativos, desde a filosofia, psicologia, sociologia e até à antropologia. Porém, escolheu a abordagem da neurociência da felicidade, um conceito que lhe pareceu mais lógico, devido ao seu pensamento crítico, mas muito lógico-dedutivo, percebendo que as emoções são resultado da atividade cerebral, logo seria aí que pretendia começar.

Assim, como referia Kringelbach, Ginestélio achou por bem definir qual a diferença entre felicidade e bem-estar do ponto de vista neurológico. Neste campo, existem dois conceitos base no estudo e investigação sobre a Felicidade, hoje em dia: O PRAZER e o DESEJO. 

Ginestélio identificou-se muito com Jeremy Bentham, um filósofo do Séc. XVIII, que procurava uma sociedade da felicidade, ou seja, uma sociedade de desejo e prazer, com objetivos que fossem sendo realizados, ou seja, uma sociedade, que no entender dele conseguisse ter todas as pessoas felizes, em igualdade, liberdade e com muito entendimento.

Aprofundando o estudo, Ginestélio percebeu que estes dois processos (que têm como base dois processos neuroquímicos) podem ter como consequências a diminuição de comportamentos normativos como a fome, a sede e até, a prática de sexo (ou a necessidade de), talvez pela hiperatividade hipotalâmica gerada, e tem que ver com a descarga de dopamina, como nos referem alguns estudos efetuados com Olds & Milner na década de 50. Logo, se formos mais Felizes, até podemos ser menos obesos ou ter mais saúde – concluí Ginestélio.

Nesta senda, na década de 60, Heath, investigador da Universidade de Tulane, ao efetuar algumas experiências que tentavam “curar” a homossexualidade (que mais tarde acabaram por ser suspensas as investigações) e mais recentemente corroboradas por Berridge na universidade de Michigan, perceberam que os mesmos estímulos elétricos em determinadas zonas do cérebro de ratos e de humanos, ativando as mesmas regiões anatómicas, as que causavam “Felicidade” eram as mesmas regiões envolvidas no desejo e não de prazer, o que leva Berridge a referir que o querer e o gostar, têm não só processos neuroquímicos diferentes, como também estruturas a serem ativadas de forma diferente.

Ginestélio começa assim a entender a grande diferença entre desejo e prazer, é que o DESEJO tem a ver com o QUERER e o PRAZER tem a ver com o GOSTAR, um é projetivo, o outro é sensitivo, o primeiro é a expectativa, o percurso, a idealização, o futuro; já o segundo é a consumação, a avaliação e o final.

Assim, Ginestélio sugeria que a dopamina parece codificar o desejo, ao passo que o sistema de opióides (estimulado pela libertação de dopamina e não só) é muito mais próximo do prazer.

Esta sugestão, leva-nos ao Córtex Orbitofrontal como sendo a estrutura central para a Felicidade, pois está relacionada, quer com o sistema de opióides, quer com o sistema dopaminérgico. Curiosamente, nos estudos de Knutson, é também no córtex Orbitofrontal, mais especificamente no Córtex Pré-Frontal Ventromedial, que se situa a “agregação” e indexação às marcas, que como refere Damásio, está associado com a aprendizagem, fazendo um resgate de memórias predizendo ganhos/perdas. Ginestélio também descobriu que é também nesta zona que se regula a expectativa de recompensa e a valência afetiva. Existem vários estudos que mostram a ativação do córtex Orbitofrontal em relatos de prazer e desejo, parecendo que o prazer sem desejo, um estado de contentamento e indiferença (por exemplo, procurado pela meditação no budismo). 

Já no ano 2000, Bechara, Damásio & Damásio, escrevem um artigo brilhante sobre a emoção, processo de tomada de decisão e córtex Orbitofrontal, propondo que a Hipótese do Marcador Somático, onde o processo de tomada de decisão é influenciado por sinais somáticos nos processos bioregulatórios incluindo as emoções e os sentimentos, sendo que o córtex Orbitofrontal (apesar de não estar a sós) desempenha um papel fundamental na decisão. Ora, se a Hipótese do Marcador Somático de António Damásio refere que, um problema nas emoções e nos sentimentos, assim como nas estruturas encefálicas que os regulam, influencia muito no nosso processo de tomada de decisão. Logo Ginestélio, conclui que a felicidade, torna-se assim um ponto fundamental para a nossa vivenciação diária e para a boa tomada de decisão.

Ginestélio continuou a indagar-se na sua sala ilustrada com livros de couro encadernados… se conseguimos perceber felicidade, parece assim um fenómeno consciente. A questão é: Será que existe algo “acima”, ou seja, algo que se passa além da linearidade do desejo e do prazer? Será a felicidade um epifenómeno? Será que é algo que apenas depende de nós, ou depende também de algo externo que transmuta e transcende essa percepção e vivenciação da verdadeira Felicidade? Será um conceito platónico que só pela transcendência do Psiquê (mente) e do Somatós (Corpo) atingindo o Nous (Alma), é que se consegue perceber e viver a verdadeira felicidade?

No entender de Ginestélio, a percepção da Felicidade sofre um processo muito próximo da consciência, e referindo as palavras de um grande amigo que falava da consciência, o Prof. Carlos Fernandes, ele achou que a Felicidade se “relaciona com a subjetividade – o que é próprio do sujeito na relação com o objeto – e com a objetividade – o que é próprio do objeto na relação com o sujeito”, ou seja, o significado (a vivenciação do que para cada um de nós significa prazer) e o significante (os elementos externos que nos proporcionam esse prazer e sobre os quais temos desejo). Por exemplo, quando Ginestélio conheceu a Abromília, uma pessoa que lhe era indiferente quando a conheceu apresentada por uma amiga (Abromília passa a ser o significante), porém, mais tarde, a relação de Ginestélio com Jolantina termina e ele procura outra pessoa para viver a vida com ele, olhando para Abromília sente que pode ser a pessoa ideal para ele e achou-a muito mais bonita que antes (o significado), fazendo com que o significante (que continua a ser o mesmo), passe a ser alvo de desejo, ou seja, atribuição causal de futura Felicidade, apesar de o significante não mudar, mudou o significado que é pessoal e um fenómeno interno, ou um epifenómeno, como referia Alfred Whitehead na Teologia do Processo, “a realidade não é feita de substâncias materiais, mas por eventos ordenados por uma série, que são experimentais na natureza”. 

Logo, para Ginestélio, a Felicidade carece então de dois processos, o sentir (como ato do fenómeno físico) e do vivenciar (como epifenómeno da mente que processa o sentido), é preciso sentir acima, ter um “gut feelling”, ou seja, é a epifania do querer, quando perspectivamos que o algo que queremos, se revela como que pré-mostrando a recompensa que vamos ter: ou seja, o DESEJO.

Mas Ginestélio ainda acha que a Felici
dade não é um processo simples, mas sim uma hierarquia emaranhada (tangled hierarquie) ou seja, é uma espécie de lloping interminável (como refere Kurt Godel) indicando que tudo está relacionado com tudo (para a obtenção do processo da Felicidade), – ou seja, o prazer e o desejo – mas que, ao mesmo tempo está relacionado com nada, visto que é na meditação, ou seja, no niilismo, na indiferença, que Ginestélio, que é budista encontrava muitas vezes a felicidade.

A questão de base é que, e de acordo com António Damásio, a Felicidade (como outras emoções) não é fruto das decisões que tomamos, mas sim a causa das decisões que vamos tomar. Ora isto posiciona o DESEJO como ponto de partida principal para a Felicidade, ou seja, as pessoas que imaginam, que procuram coisas que as realizem, que lutem por isso, que percorram os caminhos para atingir o PRAZER futuro, vão aumentar os níveis de Felicidade (ou dopamina + serotonina), criando neste looping emaranhado, uma espécie de simbiose e ação-reação, que vai tornar a nossa vida mais feliz (com DESEJO e consequentemente PRAZER). 

Neste sentido, Ginestélio percebe que ser feliz é ser alguém que DESEJA muitas coisas, que luta por isso e que faz o caminho, e que por vezes encontra o PRAZER, não ficando satisfeito e procurando e desejando sempre mais prazer. 

Ginestélio apercebeu-se que afinal, o comodismo que sempre procurou como objetivo de vida, ter uma vida estável, ter dinheiro suficiente para fazer a sua vida e comprar as suas coisas, ter bens que o permitam deixar “tranquilo”, ter uma vida familiar rotineira e deixar de procurar mais PRAZER, era assim a causa da perda da verdadeira Felicidade que ele já tinha tido quando procurava conquistar tudo isso. Isto não quer dizer que os valores da família são maus para a Felicidade, pelo contrário, quando o DESEJO e o PRAZER dos pais se transfere para os filhos, quando a família procura novos DESEJOS comuns e encontra PRAZERES comuns, esta pode tornar-se a essência da Felicidade… e Ginestélio sentia essa felicidade na família.

Neste sentido Ginestélio definiu um caminho para ser mais FELIZ… assim comprometeu-se a procurar novos DESEJOS, buscar novos e antigos PRAZERES, manter a busca dos nossos sonhos sem desistir deles, evitar o comodismo e a vida rotineira, aprender algo todos os dias, estimular a nossa dopamina e serotonina (na justa medida) estando com os amigos, comendo umas delícias de vez em quando, dançando e sorrindo… e comprometeu-se também a treinar a sua motivação intrínseca, não esperando pela motivação externa de um salário, de um trabalho estável, enfim… aprender a viver com o que tem e não com o que já teve… lutando com felicidade pelo que quer vir a ter! 

E Ginestélio atingiu o caminho da Felicidade… e descobriu isso mesmo que é um caminho e não um destino. Descobriu que se esperamos que seja o nosso entorno a proporcionar-nos a Felicidade, possivelmente o nosso organismo vai-se acomodar e o que iremos encontrar é apenas o seu contrário! Sugere assim o Ginestélio que é Feliz:

Vivam com intensidade, sonhem em conjunto e nunca se acomodem: Afinal esse é o caminho da Felicidade!

1 comentário em “Será que existe uma fórmula para a felicidade? Um caminho pelo menos…”

  1. Oi Fernando, muito bom esse assunto, realmente ja ouvi muitas pessoas perguntarem sobre o “caminho da felicidade” e tambem ja foi muito discutido por filósofos, psicólogos, faz uns dias, uma amiga compartilhou comigo um texto muito interessante de um Psicólogo e Professor Joseph Forgas, que fala que a tristeza é parte do processo para evolução da felicidade. eu tenho um blog tambem, mas escrevo poesias, uma mistura de temas, assuntos discutidos na psicologia com poesia, hehehe, é minha forma de entender assuntos complexos, mas será mesmo que existe uma fórmula para Felicidade???visite meu blog : http://www.umserpoesia.blogspot.com.br/2014/02/depressao-poetica-estado-de-felicidade.html
    abraços

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